Soube pouco depois do teste de gravidez positivo que a partir daí toda a gente teria opiniões para me dar. No início não levei a peito, eram coisas inocentes, palpites sobre o sexo do bebé ou se iria chegar às 40 semanas.
Quanto mais a minha barriga crescia mais orgulhosa eu ficava. Sentia-me bonita, as pessoas diziam-me que eu estava bonita… A minha pele estava bonita (que é uma coisa impossível para mim, cheia de marcas e afins). Apanhei o namorido umas quantas vezes a olhar babado para a minha barriga. Foi uma fase fantástica…
Mas depois chegaram as últimas semanas de gravidez… O peso, o inchaço, o cansaço… E nada de sinais da rapariga querer nascer. Todos os dias alguém perguntava se já tinha nascido, se não devia já ter nascido, se eu não sentia nada… E claro, os treinadores de bancada davam mil receitas infalíveis para acelerar o processo (que diga se de passagem, tentei quase tudo e nada funcionou).
Fomos para indução. Tremi tanto de medo que na admissão a enfermeira não me conseguiu colar o adesivo do catéter no pulso. Correu tudo (dentro dos possíveis) da melhor forma. Estava nas nuvens, uma bebé linda, perfeita e saudável nos braços, um parto sem qualquer dor, sem cortes… Tudo era perfeito.
E depois viemos para casa.
Mal eu sabia que ia começar a verdadeira parte difícil. Os primeiros 2/3 meses são uma névoa. Foram dias e dias de exaustão, de choro (às vezes sem motivo). Descobri tudo aquilo que as mães não contam, todas as dificuldades que abafam. Chorei muitas vezes de dor ao amamentar a minha filha, sem entender… E ouvi que era normal, que tinha de doer, que tinha de ganhar calo. Chorei por passar o dia inteiro sem conseguir tirar o pijama e com ela na mama. Chorei por me sentir sozinha, precisar de desabafar e não ter com quem. Chorei por perceber como o meu corpo estava diferente, como o peso da gravidez não desapareceu depois dela nascer nem nas semanas seguintes.
Percebo agora toda a violência do pós-parto.
Estamos num dos momentos mais sensíveis das nossas vidas, em overload hormonal e temos um mundo completamente novo para enfrentar. Passamos a viver em função do bebé e deixamos de existir, para nós e para o mundo. Já ninguém nos diz que estamos bonitas, ninguém nos pergunta a toda a hora como nos sentimos, ninguém se preocupa em estarmos confortáveis. Perguntam pela bebé e ainda dizem “que tu agora já não importas” (brincadeiras que magoam com as hormonas à mistura).
E mesmo quando já passaram 6 meses, e achamos que está tudo controlado… Vem a fase de regresso ao trabalho, uma angústia horrível por rebentar aquela bolinha em que vivemos coladas durante 6 meses … E mais uma onda de opiniões.
“Não devias estar preocupada, ela até está melhor sem ti.” “Não a habituaste ao biberão? Ai devias” “Era pior se fosse para a creche, está em casa não te podes queixar”
“Engordaste, agora vê lá se fazes exercício” “Eu fiz assim e assado e o meu está bem”.
Ser mãe tem sido a experiência mais desafiante e mais enriquecedora da minha vida. Duvido muitas vezes de mim, tenho momentos de fraqueza e exaustão, tenho muitos momentos em que sinto uma solidão extrema… Mas também ganho forças que não sabia ter pela minha filha e encho o peito de orgulho porque hoje ela já aguenta uns segundos sentada sozinha.