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Ele é tão querido

escrito por: Marta Lemos

19/09/2021

“Ele é tão querido!”
“Que grande pai!”
“Tens tanta sorte, ele é fantástico com o bebé..”

Habituei-me a ouvir estes comentários e a rebentar de orgulho e felicidade. Tenho realmente ao lado um pai maravilhoso, eu própria o digo a toda a gente, que grande sorte a minha, o que fiz eu para merecer um pai tão bom para o meu filho?
Mas com o tempo e o acumular do cansaço e das tarefas, comecei a pensar.. e eu? Nem na minha família, nem na dele, nem nos nossos amigos, nunca ouvi dizer..“Ela é tão querida!”, “Que grande mãe!”, “Tens tanta sorte, ela é fantástica com o bebé..”
Tenho a certeza que não sou a única.

Desde quando (ou até quando) se assume que uma boa mãe só está a fazer o seu papel natural, e um bom pai “é uma sorte”? Chego a ouvir que só está tudo a correr bem porque “tive sorte com o pai”. Esqueçam lá os desafios e adaptações da gravidez, o esforço do trabalho de parto e respectiva recuperação, o compromisso tantas vezes solitário da amamentação – isto sem este pai tinha sido o descalabro, e muitas das coisas que parecem depender mais de mim são vistas como “sorte” – sorte porque o bebé pegou bem na mama, sorte porque tive um bom parto, sorte, sorte, sorte, sou uma mãe cheia de sorte!

E depois ponho-me a pensar.. O pai desde o início que sai de casa para trabalhar alguns dias por semana, voltando revigorado e cheio saudades do bebé – meio caminho andado para lhe dedicar tempo de qualidade sem esforço. Passado o 1º mês mais confuso, já sou só eu que acordo de noite para amamentar, e sabemos que uma noite completa e bem dormida são essenciais para um pai acordar com energia para ser fantástico. Sou eu que, estando mais em casa e com um bebé que mo permite, vou arrumando e cozinhando ao longo do dia, muitas vezes sacrificando descanso e lazer pelo caminho, mas permitindo ao pai chegar, relaxar e manter os seus hobbies.

E assim concluo que o pai também teve muita sorte. Porque a mãe fica em casa para ele poder sair. Porque a mãe é organizada, poupando-o a mil tarefas domésticas. Porque a mãe dedica-se muito a “ler” o seu bebé e esforça-se para lhe satisfazer todas as necessidades, permitindo que seja tudo mais fácil quando o pai chega. Porque a mãe conseguiu amamentar, poupando-o aos biberões (antes que perguntem – sim, o pai pode dar biberão, mas isso implica tirar leite, mais uma tarefa para a mãe, e tão chata e sofrida que é preferível guardar o que se consegue para trabalho/saídas e não para o dia-a-dia). 

Não me interpretem mal, não me estou a queixar. Estou feliz com este meu papel, gosto de ser como sou e de fazer tudo o que faço. E nada disto retira mérito a um bom pai. Tinha sido e estaria a ser muito pior, muito mais difícil, sem este maravilhoso companheiro que me dá folgas sempre que eu peço ou ele vê que eu preciso. Os bons pais merecem sim ser celebrados e elogiados, mas por favor, não nos esqueçamos das mães! Não é só sorte, nem sempre é natural, e muito menos fácil. Vamos todos também celebrá-las, elogiá-as, e dar-lhes o mérito que merecem, sempre. É que elas esforçam-se muito e às vezes precisam mesmo!

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