São 6 da manhã, a bebé acabou de beber o leite. Olho para a minha filha e vejo que esta pessoa de apenas 4 meses mudou a minha vida totalmente e para sempre. Se na gravidez isto me dava pânico, assim que cruzei o olhar com ela no dia do nascimento chorei desalmadamente e naquele momento compreendi finalmente a minha missão na terra.
Sou fruto de uma educação pobre em afetos, em que não se mimava demais para não estragar, onde o chinelo era muitas vezes utilizado para educar, um estalo em público era sinal de boa educação e o consumo de álcool por parte do meu pai era diário. Os maus tratos psicológicos na escola, juntando a este ambiente terrível em casa, fizeram com que aos 15 anos tivesse uma depressão não diagnosticada mas com todos os sinais evidentes, juntamente com bulimia e ,mais tarde sim, aos 22 anos uma depressão diagnosticada.
Aos 23 engravidei e mal sabia eu que a minha filha seria o meu melhor tratamento (nem sempre acontece e é claro que não devemos ter filhos para nos curar, eles não podem ficar com este peso na vida deles). Quando engravidei já estava muito melhor e já tinha feito tratamento psiquiatrico e farmacológico, mas quando a vi pela primeira vez e até hoje percebi muita coisa.
A minha mãe sempre disse “quando fores mãe vais compreender porque somos assim”. E não é que não compreendi. Aliás desde que fui mãe ainda os compreendi menos. A minha filha é o meu tudo. Como é que é suposto magoarmos quem tanto amamos?
Mimo a minha filha mais do que tudo, muito colo, muito amor, muita dedicação. A roupa, a loiça, a casa pode esperar, a minha filha não. Como é que é suposto pensar num filho como alguém que um dia tem obrigação de e apenas tomar conta de nós? Ser visto quase como um investimento. Fazem um sacrifício agora, para no futuro terem alguém para tomar conta deles. E eu só consigo pensar em guardar dinheiro para a minha filha poder fazer tudo aquilo que eu não pude fazer. Viajar, tirar a carta, estudar, erasmus. Aquilo que ela quiser e eu lhe conseguir dar.
É claro que também vivo e desfruto da vida. Mas um dia lá no alto da velhice, quero abraçar a minha filha e sentir que eu e o meu marido fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para tornar a pessoa que nós colocamos no mundo feliz. E é isto que nos move. Amo-a sem interesses e ponto.