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Apego

escrito por: Catarina Neves

15/09/2021

O meu filho faz um ano no final deste mês. Durante quase dez meses, por variados fatores (avós no estrangeiro, avós a trabalharem em escolas, sobrinhas em idade escolar) e no meio de um pandemia, o nosso núcleo familiar não passou de nós os três.

Assim que foi possível, os avós, os tios, as primas começaram a entrar na nossa vida gradualmente. E em muitos desses momentos ouvi sempre frases como: “Ele só quer a mãe” ou “Não tira os olhos da mãe” ou ainda “Está muito apegado à mãe”. E estas palavras, lançadas ao ar, sem pensarem nelas, até sem terem má intenção, nunca me atingiram de uma forma positiva.

A questão que coloco é a seguinte: um bebé de um ano é suposto ser apegado a quem? A quê? Pandemias à parte, em tão tenra idade, o núcleo principal da criança, a mãe e o pai são tudo para um bebé. Então, porquê esta constante necessidade de “desligar” o bebé da mãe? Como se fosse um ser completamente independente, como se soubesse desde que nasceu que aquelas pessoas são família e que por isso há que estar com um sorriso nos lábios sempre que os vê. E sobretudo deverá saber que nesses momentos deve ignorar a mãe, que ela não foge (esta também ouvi).

Eu até me consigo tentar pôr na pele destas pessoas. Algumas delas avós pela primeira vez, primeiro neto, primeiro amor pequenino em muitos anos. Muita necessidade de serem reconhecidas, de serem amadas de volta. Também eu, tenho uma história com uma sobrinha que só sorriu para mim aos dois anos e meio e antes disso pensei sempre que não gostava de mim. Posso reconhecer isto tudo e mesmo assim não deixar de me sentir incomodada com a repetição destas palavras.

Se pensarmos bem, não é maravilhoso que um bebé tenha um grande apego ao seu cuidador? Não é incrível que essa ligação aconteça espontaneamente desde o nascimento? Para mim, é. Porque sei que a cada dia que passa, ele cresce. Na direção oposta à minha. Crescem as suas capacidades, a sua independência, a sua autonomia. E eu, que estarei lá sempre de uma forma ou de outra, tenho consciência que não será assim para sempre.

Haverá tempo para ele pedir para dormir em casa dos avós, para se querer afastar dos pais, para estar com os amigos, para pensar que a mãe é uma chata do pior. Agora o tempo, é este. Parem de o apressar.

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