Já tinha lido e ouvido muitas mulheres dizerem que parir é animal. E é. Por mais relatos que vamos absorvendo, por mais planos que façamos, por mais informação que procuremos, não dá para controlar. E funciona na medida em que não se controla mesmo. Em que se deixa fluir e se entrega o poder ao nosso corpo. Ao nosso corpo mamífero, que tem tudo o que é necessário para parir sem pensar muito no assunto. Aliás, quanto mais se pensa, mais se atrapalha.
O que nunca tinha ouvido ninguém dizer era que cuidar também tem muito de animal. O instinto maternal — esse sim, que é “conhecido” — para mim, mais não é que um instinto animal. Um progenitor a cuidar da sua cria. A interpretar a sua linguagem não verbal — o tónus, os barulhinhos, as expressões e gestos. A vibrar com o seu cheiro e com o toque da sua pele. Não há linguagem verbal, racional. Não precisa de haver. Há uma linguagem primitiva, uma conversa muda. Dois corpos que ainda são um só e que ainda não sabem ser de outra forma.
Quando ouço o meu filho chorar, não consigo evitar transpirar e sentir um calor a invadir-me. Mesmo sabendo que ele está bem. Está a ser observado pelo pediatra, está no banco de trás do carro, está a mudar a fralda. Sei que não me preciso de preocupar. Mas ele não sabe. E o meu corpo também não. E reage.
Quando acordo a meio da noite para lhe dar de mamar, estou exausta. Mas sinto o seu calor, vejo a expressão dele de tranquilidade e maravilho-me com a capacidade do meu corpo produzir os únicos alimentos que ele precisa — leite e amor. E nesta atração inexplicável, de quem já está esgotada mas continua a dar sem receber nada em troca, desligo o meu cérebro racional, que me diz que tenho que o pousar assim que adormecer e aproveitar para descansar. E fico só ali, com o meu cérebro animal, a lamber a minha cria.