Uma das coisas que mais me chocou nesta viagem da maternidade foi sentir que existe uma perceção generalizada de que temos de assumir as nossas obrigações profissionais da mesma maneira que o fazíamos antes de ter filhos. Nada poderia estar mais errado.
O choque vem, precisamente, depois de ter filhos, porque até ter, eu (e julgo que ninguém) faz ideia do que é que isso implica. Não se trata apenas de “passar a sair mais cedo” ou “rentabilizar melhor o tempo”. Deixamos de ter momentos para nós todos os dias. Não dá para relaxar de manhã ou espairecer ao final do dia. Acordamos e vamos imediatamente para o nosso 1º emprego: o bebé ou a criança. Depois vamos trabalhar. Depois voltamos ao 1º emprego ao final do dia. Quando o nosso 1º emprego finalmente adormece, restam-nos escassas horas ou talvez até minutos, até nós também cedermos ao cansaço.
A adicionar à carga mental que já tínhamos na nossa vida profissional, passamos a ter o dobrou ou o triplo de outra carga mental: quando é o pediatra? Preciso de lhe cortar as unhas. A roupa está a deixar de servir, tenho de comprar mais. As fraldas estão a acabar. Qual vai ser o jantar de amanhã? E de quarta? E de quinta? Devia pô-lo na natação. Não me posso esquecer de dar o xarope para a tosse. Para que escola deve ir para o ano? Tenho de levar uma muda de roupa para a creche. Tenho de descongelar a sopa. And so on. And so on.
Entretanto não dormimos bem, não desanuviamos porque não temos momentos para nós – o chamado “recharge” -temos de dar banho, temos de dar o jantar, temos de por a dormir a sesta, temos de ir buscar à escola porque está doente, temos de gerir birras porque não querem comer, e mais outros tantos “temos”. Por isso, quando me sento a trabalhar não garanto ainda estar “fresca”. Não garanto ter produtividade. Não garanto chegar às 09h em ponto, porque não sei o que a manhã me reserva. Não garanto acabar aquele email depois de jantar porque não sei se o bebé vai chorar. Não garanto estar na reunião às 18h porque entretanto a escola fecha. Garanto é que, depois de ter filhos (e eu só tenho uma) a minha capacidade física e mental não é a mesma, mas a vida continua como se fosse.
And that’s damn hard.