‘It takes a village to raise a child’, disse-me uma amiga assim que a minha filha nasceu. Ouvi-a mas levei-a pouco a sério, porque…enfim. Sabemos tudo quando os nossos filhos nascem e confiamos pouco na sabedoria de quem já fez isto antes de nós.
Quando a minha filha tinha 3 anos e eu e o pai dela nos separámos, aquela frase martelou-me nos ouvidos todos os dias. Não porque ele não seja um pai presente – temos guarda partilhada desde sempre, e ele é um pai cinco estrelas – mas porque de repente, durante duas semanas por mês, eu estava absolutamente sozinha com uma criança pequena e uma vida e profissão exigentes. E claro, ainda chegou a pandemia, para ajudar à festa – olá teletrabalho, adeus escola, bem-vinda, tempestade perfeita.
Primeiro, veio o medo: e se ficar sem emprego? E se me cortarem salário, que já tenho que esticar tanto para conseguir fazer face a todas as despesas sozinha? E se ela adoece? E as noites mal dormidas que deixam de ser partilhadas? E as decisões de vida, os problemas, os desafios?
Depois, a certeza: há muita gente que faz isto e, portanto, não serei eu a não conseguir fazer. Mas – e é aqui que tudo fez a diferença – não fazem sozinhos. Há tantos pais e mães solteiros, viúvos, separados que têm filhos perfeitamente felizes e saudáveis no mundo, que a coisa não pode ser impossível. Só é mais difícil. Mas pedir ajuda torna o caminho um bocad(ã)o mais simples.
Deixei de lado o orgulho e pus os meus pais de sobreaviso para o caso de precisar de lhes pedir dinheiro – so far, so good, e nunca precisei; abri o coração aos meus amigos e falei-lhes dos meus temores. Todos, sem exceção, se disponibilizaram para ajudar. E ajudaram. Houve dias em que uns providenciaram comida, outros baby-sitting, fizeram-me compras, ajudaram-me com trabalho, ouviram-me chorar ou apareceram para beber um copo e rir muito. Levei, as vezes que foram precisas, a minha filha para coisas de trabalho se as escolas fecharam ou ela esteve doente – e perdi completamente a vergonha por ter de o fazer. Já tive colegas de trabalho (amigos) a dar-lhe almoço para eu conseguir comer e os avós, que por norma nem estão em Portugal, fizeram-se presentes sempre que foi preciso.
Se é fácil? Não! Até porque eu sou a pessoa que ajuda e que odeia pedir ajuda. Exigiu muitas horas de terapia, e outras tantas de meditação e yoga, de amigos e família (não é tudo o mesmo?) que se fizeram presentes mesmo quando eu dizia que não queria e de um respeito muito grande pela pessoa que sou. Houve um dia em que recebi uma chamada a dizer que queriam que fosse duas semanas em reportagem para outro continente, e antes de eu dizer algo já estava a ouvir: “E se não tiveres quem fique com a tua filha!, ela fica comigo”. Sabem o que isto significa? Que muitas vezes nos esquecemos de que há quem esteja lá de mão estendida para nos ajudar, e é mesmo preciso deixar o orgulho e o medo de lado.
Se perdi os receios? Não. Mas tornei-me mais confiante nas minhas capacidades. Há sempre quem vá dizer que estamos a fazer algo errado, que não estamos a priorizar os nossos filhos – tentem manter uma carreira, um filho e uma vida social, tão importante sozinhos e depois mandem postas de pescada, sim? –, que estamos a falhar. Rodeiem-se das pessoas que vos querem ver ter sucesso e prosperar. Sejam honestos com as pessoas que importam – os vossos chefes, a vossa família, de sangue ou escolhida – e vão ver como as coisas se tornam mais fáceis.
Nos últimos dois anos aprendi a ser mãe sozinha – o que nem é verdade, porque se o outro progenitor está presente acho sempre injusto dizer isto – mas tornei-me uma pessoa melhor. Uma mãe melhor. E para as mais ferozes tempestades, guardo sempre um núcleo de pessoas sem as quais não as conseguiria atravessar. Foram elas que me salvaram e salvam, que me mantêm à tona mesmo quando não têm noção disso.