Há dias queixava-me que não há muitos livros sobre a realidade da maternidade traduzidos para português e muito menos escritos na nossa língua. Mal sabia eu.
Hoje segurei um tesouro nas mãos e li-o de uma vez. Não é «só» sobre ser mãe. É sobre a vida, a morte, o acaso, o mistério. Chama-se Fósforo, é escrito (e dançado na minha cabeça) pela @pessoana.karateca numa mestria de ritmo e jogo entre gargalhadas e lágrimas comovidas. O seu tamanho não faz prever a grandiosidade do que é, do que simboliza.
Editado pela Flan de Tal, à venda na @flan.zine, é ouro à espera de ser contemplado.
«três quilos e quatrocentos gramas
o meu filho gente humano ser
e então eu paro eu pairo
e faço o discurso que o meu filho não fez
canto o fado que ele não cantou
se uma gaivota viesse
o meu filho holofote
aquele rosto grego romano
visigodo lusitano
boca nariz dedos unhas
orelhas queixo olhos pirilampos
azuis prateados
verdes metalizados
cinzentos esverdeados
beira litoral ria de aveiro
serra de sintra mundo inteiro
primeiro homem primeiro nome»