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Maternidade a solo

escrito por: Tânia Carmo

12/01/2022

Separei-me quando o meu filho tinha 7 meses de vida.
Os primeiros tempos foram muito duros. Estava feita em pedaços e, em simultâneo, a aprender a ser mãe, profissional e gerir uma casa a solo. Passei a assumir todas as tarefas: fazer compras à hora do almoço, enquanto o bebé está na creche, evitando assim carregar com ele e com as compras pelas escadas acima até ao 3o andar; cozinhar o jantar do dia seguinte, enquanto o bebé dorme; limpar e arrumar a casa, sem dividir tarefas; ter de ficar acordada sozinha à noite para dar de mamar, trocar a fralda e voltar a adormecer; ficar em casa a tratar do bebé quando está doente, ao mesmo tempo que me dedicava à minha carreira… Tentei garantir todas as necessidades básicas do meu filho, estando metade de mim morta. Nos primeiros meses, deixou de haver copos ao final do dia, não houve jantares com amigos ou LUX ao fim de semana, não houve pausas. Fui mãe 24/7.

O cansaço aliado à tristeza e à solidão, fizeram com que a responsabilidade assumisse um peso maior do que a conta. Contudo, em paralelo e com muita ajuda e terapia, tentei de alguma forma redefinir a normalidade e o equilíbrio, não esperando por uma terceira pessoa para viver a minha vida.

Uma das coisas que adoro fazer é viajar e, por isso, comecei a tirar férias sozinha com o meu filho. No primeiro ano, chorei e senti-me desamparada, sem rumo. No segundo, com muitas incertezas, as viagens foram mais calmas. No terceiro ano, vibrei pelo facto de poder estar com o meu filho e proporcionar-nos memórias maravilhosas.

O tempo ajudou muito, fez com que tudo ficasse mais tranquilo. Ajudou a que a loucura do dia a dia fosse mais leve, criando uma rotina ajustada à minha realidade e dando espaço a momentos intenso-especiais vividos a dois (e a solo). Mas foi preciso renascer, perdoar o passado, olhar para as mudanças da vida com bondade e pedir ajuda muitas vezes.

À medida que o meu filho vai crescendo, mais intensa e bonita é a nossa relação. Mais consigo desfrutar da maternidade. Mais livre e feliz me sinto enquanto mãe. Completamo-nos e crescemos juntos. Ele ensina-me muitas coisas e eu dou-lhe o melhor de mim, mesmo com alguns erros pelo meio. E estas partilhas só são possíveis com muito amor, compreensão, humildade e assumindo o nosso valor, enquanto família. Ser mãe solo é o dobro da dor e o dobro do amor.
No meio do caos e de tantas dúvidas, estou a conseguir criar uma família feliz.

Nota: o pai do meu filho é presente e atualmente fazemos guarda partilhada.

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