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Reencontro comigo

escrito por: Ana Jorge

12/11/2021

Nunca fui fit, nem sequer nunca fui magra (se seguirmos os parâmetros convencionados socialmente para o que é uma pessoa magra), comer é uma das minhas paixões e sou daquelas pessoas que come tudo e adora tudo. Está sempre tudo ótimo. Quando era miúda, o meu avô costumava dizer que lhe dava prazer ver-me comer e ouvi isso de várias pessoas já depois de adulta. Mas sempre pratiquei exercício. Sem dedicação extrema — suficiente para me manter ativa e saudável.

Já escrevi nesta página acerca das minhas dificuldades com a maternidade no primeiro pós-parto. Foram muitas, emocionais, psicológicas e físicas e uma das minhas prioridades depois de ter a minha primeira filha foi voltar ao exercício físico. Fazia-me bem sentir que estava, pelo menos, a tirar algum tempo para fazer alguma coisa por mim. Tinha ganho quase 20kg durante a gravidez e era, para mim, importante perder algum peso e voltar a caber nas minhas roupas. Sou vaidosa e adoro vestir-me bem.

Mas isso não chegou a acontecer porque engravidei de novo sete meses depois de ter a Camila. Continuei a fazer desporto por uma questão de saúde, mas a desculpa da gravidez inesperada foi perfeita para me deliciar com toda a comida que me apetecesse. Foi óptimo, fui muito feliz na minha gravidez. Mas quando o Lucas nasceu eu estava com perto de 90kgs, o que, para mim, era inédito. E não vou negar: depois de o bebé nascer e aqueles primeiros kgs irem à vida naturalmente, não gostei do que vi. Não me reconheci e culpei-me por me ter deixado chegar aqui.

Sempre fui uma high achiever. Sou incrível por ter dois filhos lindos, mas e o resto? E eu? Voltar ao trabalho foi sempre ponto assente para mim. Além de vivermos numa das cidades mais caras do mundo e precisarmos do dinheiro, eu adoro trabalhar. Mas ia ser só isso? Filhos, trabalho… E sentir-me bem? Sentir-me forte, sentir-me sexy? Precisava de me reapaixonar pelo meu corpo para me voltar a sentir apaixonante. Basicamente acho que precisava de sentir que controlo isto outra vez. Quem manda sou eu. Às vezes, certo. Mas ainda assim.

E então pus mãos à obra (e o corpitxo também) e o resultado foram mais de 25kg perdidos. Dias mais difíceis que outros — aprendi que quando não durmo apetece-me comer porcarias — mas tem sido uma viagem de auto-conhecimento do mais bonito que já vivi. Desconhecia por completo os meus limites e atrevo-me a dizer que o que há para explorar é, de certeza, incrível.

Com dois filhos com menos de dois anos, trabalho a tempo inteiro e sem nenhuma ajuda além da creche, eu fiz isto. É do caraças! Ser mãe e ser mulher é do caraças!

Melhor ainda é ter-se tornado um desafio partilhado com o meu marido— acabámos a inventar receitas saudáveis juntos, a partilhar planos de treino e a dar longas caminhadas com os miúdos enquanto o outro faz a corridinha diária. Surpreendentemente, ao roubar-nos ainda mais tempo um para o outro, aproximou-nos.

E, por favor, ao lerem isto não me interpretem mal. Este texto e a minha experiência não são sobre não amar uma determinada tipologia de corpo. Pelo contrário. A forma que eu encontrei de amar o meu corpo foi esta: colocá-lo à prova, mas ouvi-lo, respeitá-lo e admirá-lo. Gerou dois filhos maravilhosos, alimentou-os e abriga-os. Dá-lhes colo e amor infinito.

Em troca, eu decidi tratá-lo bem. E descobri um novo tipo de amor próprio, que me tem feito muito feliz.

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