Voltámos à creche. À rotina. Deitar cedo, cedo erguer. Depois de 3 meses sempre juntos, voltámos à separação diária de oito horas. Às lágrimas matinais. Às birras constantes do final do dia.
À culpa. Voltei à merda da culpa.
Assim que os vejo sair pela porta, de manhã, com o pai, para me poder preparar e começar o dia de trabalho, o meu coração aperta-se e naquele instante sinto-me a pior mãe do mundo. São meus, mas não hesito em fechar a porta e deixá-los ao cuidado de pessoas que ainda nem conhecem bem. Mesmo quando choram e me pedem para ficar comigo.
Afastarmo-nos de um filho que implora pelo nosso colo deve ser a coisa mais contra natura que existe. Mas adiante…
Ao fim do dia, corro para os buscar, já não oiço nada do que me dizem na última reunião, só quero fechar o computador e sair, garantir que não são os últimos meninos a ir embora. Mas assim que chego a casa e me lembro, enquanto preparo o jantar, arrumo as mochilas e ponho a água dos banhos a correr, das coisas que não fiz e que já não vou fazer, daquele email que me pediram para enviar e não enviei, daquele catch up que devia ter marcado com alguém e não marquei, sinto-me a falhar. Tanto sonhei com uma carreira internacional… E questiono-me se tenho a capacidade necessária para gerir isto tudo. E acho que não tenho.
Depois deito-os, e abraço-os e beijo-os e peço desculpa baixinho se foi a eles que falhei.
Enquanto dobro a roupa lavada e tento emparelhar meias, vou anotando mentalmente todas as tarefas que não completei nesse dia e que espero completar amanhã ou pelo menos antes de a semana acabar. E secretamente rezo para que a chefe não note que lhe falta aquele documento que eu ainda nem comecei a fazer.
Deito-me cansada, mas tento deitar-me feliz porque acredito que saberão um dia que fiz o melhor que pude. Por eles e por mim.
De manhã acordo, são 5.45 e já estou atrasada para o ginásio. Só tenho 45 minutos para mim, tenho que os aproveitar e bem. Mas a culpa há-de voltar. Insiste em seguir-me para onde quer que vá. Das minhas têmporas escorre suor e com ele uma parte das minhas angústias. Mas não estou em casa quando acordam, será que sentem a minha falta? É melhor despachar-me, quero ser eu a escolher a roupinha para a escola. A culpa não me escorre pelas têmporas.
Ser mãe é sentir culpa, penso. Dizem-me outras mães que sentem o mesmo. Que estamos todas no mesmo barco. Por umas horas sinto-me menos mal e foco-me no que é preciso. Há-de chegar a hora de os abraçar de novo e os aconchegar na cama.