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Solidão

escrito por: Anónimo

11/09/2021

Ninguém/nada nos prepara para a maternidade!” – esta é a grande verdade! Se por um lado, há este amor imenso que me inunda e às vezes quase me consome – será que vou ser capaz de cuidar deste amor? serei merecedora de tamanho tesouro? – por outro, a solidão é a agora a grande companhia. Os dias passam lentamente rápido, na azáfama das coisas para fazer e do cuidar constante. De repente, olho e já passou mais um dia, mais uma semana, mais um mês… como, se ainda não consegui voltar a ser um bocadinho eu ou para mim?

Os problemas do casal antes do bebé continuam cá, mas agora não só não se dissipam nos momentos românticos e de namoro (que são para lá de poucos e sempre com os olhos enevoados de cansaço), como passaram para os últimos lugares da lista de prioridades (o último lugar é o meu, claro!), mesmo antes da tarefa de passar a ferro. A distância entre nós cresce à velocidade silenciosa com o que tempo passa. Coisas que não se dizem para não ferir o outro, mas que ficam cá dentro a ferir-nos as entranhas. E a dor da solidão começa a tomar espaço. Não expressar torna-se a minha especialidade. Virar-me para dentro, encolher-me, espremer-me até não haver mais eu.

Algumas vezes, a depressão, companheira dos anos antes da maternidade, dá notícias. Como aquela mensagem aparentemente indefesa em tom shanti shanti – “ai, tenho andado a pensar tanto em ti” – mas que vem com intenção de mexerico e de se deixar ficar. E a essa eu digo que “está tudo bem; um pouco cansada mas é uma fase” para ver se ela vê o dedo médio nas entrelinhas, se toca e vai embora. Mas nesses dias, a vontade é de calçar as sapatilhas, sair para correr e só parar daqui a três anos. É de tomar três capuccinos seguidos depois das 3 da tarde sem ter medo de perder o sono. É ir à Feira do Livro, vir de lá com um daqueles sacos com rodinhas de ir às compras que os velhotes usam mas cheio de livros e sentar-me a lê-los. É de ver uma chachada qualquer no Netflix, jantar chocapic e ver mais umas quantas chachadas à sobremesa. 

A solidão está cá sempre. Já estava antes mas contornava-se. Agora é gritante. E sufoca. E apaga-me. E estamos todes tão ocupades a estar sozinhes, que não há com quem partilhar estes sentimentos, com quem desconstruir estes pensamentos, com quem me sentir fazer parte.

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